Maior massacre de detentos desde o Carandiru começou na tarde do
domingo, quando os corpos de seis presos foram jogados, sem cabeça, para fora do presídio.
Após mais de 17 horas, chegou ao fim a rebelião no Complexo Penitenciário Anísio Jobim, em Manaus. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Amazonas, pelo menos 60 presos morreram durante o motim. O secretário, Sérgio Fontes, afirmou que o episódio é resultado de uma guerra entre duas facções pelo controle do tráfico de entorpecentes na cidade.
Segundo o portal G1, que ouviu o secretário de Segurança Pública do Amazonas, Sérgio Fontes, os mortos são integrantes de uma das facções criminosas e estavam presos por estupro. Também houve fuga de detentos durante a rebelião, mas o número não foi divulgado. A OAB-AM chegou a dizer ao portal que mais de 130 estão foragidos.
— Na negociação, os presos exigiram praticamente nada. Apenas que não houvesse excessos na entrada da PM, coisas que não iriam ocorrer mesmo. O que acreditamos é que eles já haviam feito o que queriam, que era matar essa quantidade de membros da organização rival e a garantia que não seriam agredidos pela polícia. A FDN (Família do Norte) massacrou os supostos integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) e outros supostos desafetos que tinham naquele momento. Não houve contrapartida da outra facção — afirmou o secretário.
O tumulto, que havia iniciado na tarde do domingo, encerrou por volta das 10h40min (horário de Brasília) desta segunda-feira, quando presos entregaram as armas e se renderam.
No domingo, os corpos de seis pessoas, ainda não identificadas, foram jogadas para fora do presídio sem as cabeças. Até as 22h50min de domingo, 12 agentes carcerários foram mantidos reféns. Epitácio Almeida, presidente da Comissão de defesa dos Direitos Humanos da OAB-AM, coordenou as negociações com os presos e trabalhou na libertação dos reféns, que foram soltos na manhã desta segunda. De acordo com ele, este é um dos piores massacres em presídio que já houve no país.
Demais funcionários que estavam na unidade prisional conseguiram escapar durante o tumulto. Um agente foi ferido por um tiro de raspão e está hospitalizado, mas sem gravidade. Segundo o G1, além de mortes por armas, foram registradas mortes por incêndio.
Dezenas de pessoas foram ao presídio para aguardar informações de parentes presos. Alguns familiares também compareceram à sede do Instituto Médico Legal (IML), na zona norte de Manaus, em busca de novidades.
Procurada pela Agência Brasil, a empresa Umanizzare, contratada pelo governo para administrar a unidade, não comentou a situação. Segundo o site da empresa, o complexo abriga 1.072 internos. As autoridades estaduais ainda vão investigar as causas do motim.
Aliada ao Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro, a FDN domina o tráfico de drogas e o interior das unidades prisionais do Amazonas. Desde o segundo semestre de 2015, líderes da facção criminosa amazonense vêm sendo apontados como os principais suspeitos pela morte de integrantes do PCC, grupo que surgiu em São Paulo, mas já está presente em quase todas as unidades da federação.
Poucas horas antes do início da rebelião no Compaj, dezenas de detentos tinham conseguido escapar de outra unidade prisional de Manaus, o Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat). O próprio Fontes chegou a afirmar a jornalistas que a fuga do Ipat pode ter servido como "cortina de fumaça" para acobertar a ação no Compaj.
Segundo o secretário de Segurança Pública, as forças de segurança optaram por não entrar no Compaj por considerar que as consequências seriam imprevisíveis.
— (A rebelião) Foi gerida com negociação e com respeito aos direitos humanos — disse Fontes, garantindo que os líderes da rebelião serão identificados e responderão pelas mortes e outros crimes.
Para ele, porém, o Estado, sozinho, não tem condições de controlar uma situação como essa.
Em nota, o Ministério da Justiça informou que o ministro Alexandre de Moraes esteve em contato com o governador do Amazonas, José Melo de Oliveira, durante todo o tempo. Ainda segundo o ministério, o governo estadual deve utilizar parte dos R$ 44,7 milhões de repasse que o Fundo Penitenciário do Amazonas recebeu do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) na última quinta-feira para reparar os estragos na unidade.