Estado do Pará, que hoje conta com três fábricas de cimento em operação – a mais antiga delas em Capanema, a segunda em Itaituba e a mais recente em Barcarena –, deverá ganhar, dentro dos próximos anos, pelo menos mais três indústrias do setor. Uma está sendo projetada para implantação no município de Uruará. Já em fase de licenciamento, a segunda fábrica será instalada pelo grupo Votorantim no município de Primavera, enquanto a terceira, prevista para Marabá, está em fase de projeto.
“O ciclo dos grandes projetos no Pará, sobretudo no setor elétrico, está aguçando o interesse da indústria de cimento”, admite o presidente da Federação das Indústrias do Estado, José Conrado Azevedo Santos. Para ele, a outra aplicação industrial do calcário, empregado como corretivo do solo, ainda não consegue atrair os investidores porque, excetuando-se apenas o dendê, o Pará não tem produção agrícola em escala suficiente para fazer do agronegócio um alvo atraente para a indústria de fertilizantes.
No entender do presidente da Fiepa, uma possibilidade promissora para o futuro é a adoção de uma política de reflorestamento consorciado com a fruticultura. “As nossas frutas regionais têm um potencial enorme, inclusive com mercado garantido no exterior”, disse José Conrado, acentuando que a Amazônia – e o Pará em especial – não aprendeu ainda a trabalhar adequadamente com as suas possibilidades de negócios.
Como exemplo, ele citou uma consulta recebida há poucos dias pela Federação das Indústrias, feita por um grupo europeu interessado na importação de polpa de uxi. “Onde e como nós vamos conseguir isso para comercialização em larga escala?” – perguntou-se o dirigente do setor industrial paraense.
José Conrado ressaltou, porém, que a possibilidade do reflorestamento consorciado com a fruticultura, em projetos de porte capaz de atrair o grande empresário, está condicionada a algumas questões que podem ser consideradas vitais, como a regularização fundiária. Outra, a segurança jurídica, o que implica não só o fim das invasões de propriedades, mas também normas claras e procedimentos rigorosamente técnicos na condução dos processos de licenciamento ambiental. Em outras palavras, ele considera que as decisões nesta área não podem ficar na dependência das oscilações de humor dos burocratas de plantão.
>> Reservas paraenses ainda são icógnitas
O Brasil dispõe de resesrvas medidas e indicadas de calcário superiores a 50 bilhões de toneladas, segundo levantamento de 2008 do Departamento Nacional da Produção Mineral (DNPM), órgão vinculado ao Ministério de Minas e Energia. No ranking dos produtores nacionais, o Pará, com 589,2 milhões de toneladas, ocupa o 14º lugar, posição modesta para um Estado que está em vias de se tornar o maior produtor de minérios do Brasil – e talvez do mundo.
Técnicos da área de geologia e empresários do setor industrial alertam, porém, que esta é muito provavelmente uma situação enganosa. Geologicamente, segundo eles, o Pará (e a Amazônia como um todo) ainda é muito pouco conhecido, o que deixa em aberto a possibilidade de novas e importantes descobertas minerais. Inclusive de calcário, obviamente. A favor dessa tese já existe até mesmo um fato concreto. Descoberta mais recentemente, a reserva de calcário localizada nos municípios de Uruará e Medicilândia ainda não foi incluída nas estatísticas do DNPM.
Os Estados detentores dos maiores depósitos de calcário no Brasil são Mato Grosso, com reservas medidas e indicadas de 12,9 bilhões de toneladas, Minas Gerais (7,6 bilhões), Mato Grosso do Sul (7 bilhões), Paraná e Ceará (cada um com 3,8 bilhões), Bahia (2,7), Goiás (2,5) e São Paulo, com 2,4 bilhões de toneladas. A menor reserva está no Tocantins, com 85 milhões de toneladas. Em três Estados – Acre, Amapá e Roraima, não há – pelo menos por enquanto –, registros da ocorrência de calcário no levantamento do DNPM.
De acordo com o geólogo Every Geniguens Tomaz de Aquino, superintendente do DNPM no Pará, normalmente podem ser encontrados nos depósitos naturais, com algumas variações, os três diferentes tipos de calcário. O dolomítico, rico em magnésio e apropriado como corretivo da acidez do solo, o calcário calcítico, rico em carbonato de cálcio, empregado na indústria de cimento, e o calcário silicoso, este mais usado na indústria como fundente para auxiliar na fusão e correção de pH em altos-fornos.
O superintendente do DNPM considera que os megaempreendimentos da indústria de construção projetados no Pará, como os complexos hidrelétricos de Belo Monte e Tapajós, estão atuando como fatores de atração das fábricas de cimento. Desde que exista mercado, porém, ele entende que é perfeitamente possível a atração, também, de indústrias de fertilizantes e mesmo de outras linhas que utilizam o calcário como insumo industrial. Every Aquino lembra, por exemplo, que a Comara utilizou durante muito tempo o calcário de Monte Alegre como brita na construção de aeroportos e também na produção de cal. (Diário do Pará)