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sábado, 12 de dezembro de 2009

Cone de mel

Corrupção é uma comichão universal, uma febre que se propaga pelo ar e que só encontra algum tipo de antídoto quando exposta à consciência moral da humanidade, manifesta pela opinião pública e pela imprensa.Duro é quando o poder constituído “elege” a corrupção como fé e a degenerescência moral como cartilha — como faz o político que hoje reivindica para si o título de “o mais indecente do mundo” homens que gasta dinheiro público para defender a “República da Corrupção”.
Essa praga adeja o poder e os poderosos como as moscas rodeavam aqueles antigos (e eficientes) cones de mel, chamarizes de tudo quanto é tipo de inseto voador. Os bichinhos chegavam ali, mortos de vontade de chupar um melzinho - e "vupt!", ficavam presos na armadilha.
Imagino essas moscas do erário debochando dos que ainda clamam por justiça. A tática de politicos e seus ladrões profissionais é a “procrastinação”, empurrar o escândalo com a barriga, até que a sociedade se canse dele. Os “denunciados” aproveitarão o tríduo momesco e usarão sua velha máscara de ladrão, aproveitando o “clima”. Será que, um dia, os partidos tomarão a iniciativa de não aceitar mais ladrões em seus blocos? É preciso que o povo conheça os ladrões, até para evitá-los na hora do voto.
Não é difícil reconhecer um rapinante. Difícil mesmo é puni-lo. Dificuldade que emerge das Escrituras, revelando a precariedade dos tribunais. Muitos facínoras deles saíam impunes, como testemunha o apóstolo João, 18, 39-40:
— Pilatos foi ter com os Judeus e disse-lhes: “Não acho n’ Ele culpa alguma. Vós tendes por costume que eu vos solte alguém pela Páscoa. Quereis que vos solte o Rei dos Judeus?"
Então, eles gritaram em alto e bom som:
— Esse não! Solta Barrabás!
Ora, Barrabás era um ladrão conhecido. E acabou absolvido pelo Tribunal Popular, anexo à CPI de Pilatos.
Depreende-se que há ladrões bons e maus, sábios e estúpidos. Mas há, sobretudo, para asco da humanidade, ladrões com procuração do povo. Larápios que se elegem para roubar — e que até instalam uma dinastia, empregando mulher, filhos, parentes e ONGs, na ancestral arte de rapinar o alheio.
Com que substantivo descrever esses ladravazes, sem ofender o ladrão comum, o assaltante de galinheiro?
Alguém que, sendo governo, batoteia milhões através de propinas e licitações forjadas, revela um cinismo insano, uma aptidão para a rapina insuspeitada nas piores aves do ramo.
Como descobrir entre os pescoços de colarinho branco o terno do predador?
Rapinantes não usam uniformes — são mestres da dissimulação. Como chamá-los, a não ser pelo nome próprio, posto que ninguém, nas ruas, atenderia pelo vocativo impactante - “Hein, seu ladrão!”?
Na verdade, de tanto se reproduzir e permanecer impune a “espécie,” começa a faltar na língua portuguesa — a lusitana ou a “brasileira” — uma palavra capaz de definir esse “assaltante do alheio”, esse “comedor do erário”, esses “tosquiador da lã pública”.