As Polícias Civil e Militar cumpriram, nesta terça-feira (28), 13 mandados de prisão preventiva de pessoas acusadas de envolvimento em uma associação criminosa responsável por roubos a agências bancárias e arrombamentos de caixas eletrônicos no Pará. Denominada de "Cruz de Malta", a operação foi deflagrada, durante madrugada, por cerca de 20 policiais civis e militares em Belém; nas cidades de Ananindeua e Marituba, situadas na região metropolitana, e em Concórdia do Pará, Castanhal, Santa Izabel do Pará e Moju, nordeste do Estado. Sob coordenação da Diretoria de Polícia Especializada (DPE) e operacionalizada pela Divisão de Repressão ao Crime Organizado (DRCO), a ação policial foi resultado de seis meses de investigações. As informações foram apresentadas em entrevista coletiva a jornalistas, na Delegacia-Geral, em Belém.
Estiveram presentes o secretário de Segurança Pública e Defesa Social, Jeannot Jansen; o delegado-geral, Rilmar Firmino; o diretor de Polícia Especializada, delegado Silvio Maués; coronel Sergio Alonso, chefe do Departamento Geral de Operações da PM; e os delegados André Costa e Tiago Belieny, da DRCO.
O grupo é acusado de praticar, pelo menos, 12 ações criminosas contra instituições bancárias, como assaltos e furtos com arrombamentos de caixas eletrônicos. As investigações apontaram o envolvimento de policiais militares nas ações criminosas.
Foram presos, durante a operação, Rui Ferreira Pantoja, de apelido "Canela Fina"; Laurimar Ribeiro de Arruda, de apelidos "Boca Podre" ou "Vadio"; Elenilton Gomes de Lima, conhecido como "Lorin", e Gerson Alfaia Reis, de apelido "Gê", acusados de envolvimento direto nos assaltos. Os policiais prenderam os cabos da PM Fabrício José Vasconcelos, conhecido como "Vasco" ou "Vascão"; Waldecy Oliveira Ferreira e Giovani Ferreira Pinto. Outro preso, Leonardo Cezário da Silva, de apelido "Playboy", é ex-policial militar, expulso da corporação. Os outros presos são a funcionária do Fórum de Moju, Gilmara Diniz Pastana; o empresário Claudionor Ferreira de Araújo, de apelido "Paraíba"; Jacqueline Reis Vieira, mulher de "Vasco"; Edimilson Vieira de Sousa e o empresário José Edivan Amorim Campos, acusados de dar apoio logístico ao grupo criminoso. Um empresário está foragido.
De acordo com o delegado André Costa, as investigações foram iniciadas em 4 de janeiro deste ano, quando um grupo formado por oito homens armados com fuzis e pistolas invadiu uma agência do Banpará, em Concórdia do Pará, na modalidade de assalto conhecida como "novo cangaço" ou "vapor". Na ocasião, explica o delegado, chamou a atenção da equipe de policiais civis, durante as investigações, a facilidade com os assaltantes tiveram para entrar e sair da cidade, sem reação alguma por parte de policiais militares.
Ainda, no início deste ano, no dia 26 de janeiro, foi registrado outro assalto a banco, desta vez, em Nova Esperança do Piriá, onde seis homens invadiram a agência do Bradesco na mesma modalidade de roubo. Outro assalto a banco com envolvimento do grupo, conforme as investigações, foi o ocorrido em Moju, em março deste ano, quando, na fuga, houve troca de tiros com policiais civis e militares. Seis assaltantes morreram e um casal foi preso. Foram apreendidas oito armas, como pistolas, fuzil e submetralhadora. Com o aprofundamento das investigações, os policiais civis chegaram ao nome de Fabrício Vasconcelos, considerado o principal articulador dos assaltos e um dos integrantes do núcleo de apoio da associação criminosa. "Ele eram que arregimentava outros policiais militares a sair do local do assalto durante a ocorrência", explica.
Além dos assaltos na modalidade "novo cangaço", eles também são apontados por envolvimento em três casos de arrombamento de equipamentos de caixa eletrônico com uso de maçarico registrados este ano. Dois caixas arrombados estavam em duas farmácias, no distrito de Icoaraci. Em outro caso, houve ação de assaltantes, que renderam o vigilante da sede da Defensoria Pública, em Belém, e arrombaram o caixa eletrônico no local. O delegado-geral salientou o trabalho desempenhado pelo Sistema de Segurança Pública para combater os maus policiais. "Não podemos mais tolerar os desvios de conduta dentro dos quadros das Polícias no Estado", ressalta. Nos últimos cinco anos, 58 policiais civis, dos quais 11 delegados e 47 policiais de outros cargos, foram demitidos a bem do serviço público. Os policiais militares presos estão recolhidos no presídio Coronel Anastácio das Neves e os demais em outras unidades prisionais do Estado.
PRESOS Dentre os presos, está Rui Ferreira Pantoja, primo de um dos assaltantes mortos em confronto com policiais em Moju, em março deste ano. Claudionor Ferreira de Araújo é empresário, dono de um frigorífico e de um açougue, em Moju, e ainda de uma fazenda, no mesmo município. Ele era investigado desde um assalto a um carro-forte, em 2014, na PA-150, trecho entre Tailândia e Moju, no nordeste do Pará, acusado de aguardar as armas dos assaltantes em sua propriedade, em Moju, onde também alojava os bandidos e fornecia alimentação aos criminosos. Rui Pantoja é irmão de dois assaltantes de banco já conhecidos das Polícias. Laurimar Arruda, que participou ativamente do assalto a banco, em Concórdia do Pará, no início deste ano, já era conhecido das Polícias por ter sido preso por envolvimento em assaltos a bancos, como em Garrafão do Norte, e na tentativa de assalto a um ônibus de turismo que seguia para Fortaleza, no Ceará, em 2013, e que foi evitado por policiais civis do GPE (Grupo de Pronto-Emprego), grupamento tático da Polícia Civil.
O preso Elenilton Gomes de Lima participou, em 2012, dos assaltos simultâneos de dois bancos, em Novo Repartimento, sudeste do Pará. Ele atuou ativamente nas três ocorrências de assaltos a bancos, na modalidade "novo cangaço", em Concórdia do Pará, Nova Esperança do Piriá e Moju. O preso "Gê" já atuou, em Belém, em assaltos na modalidade "saidinha bancária", e com o tempo, passou a praticar esse tipo de assalto fora do Pará. Ele se juntou a Rui Pantoja, a quem conheceu no Maranhão, e desse Estado vieram inicialmente a Concórdia do Pará, no início deste ano, para assaltar o banco da cidade. Dentre os presos apontados por envolvimento no núcleo de apoio dos assaltantes está a funcionária pública do Fórum de Moju, Gilmara Diniz Pastana.
Segundo o delegado André Costa, a função dele era a de tomar conhecimento de qualquer medida cautelar, como pedidos de prisão, por exemplo, requisitada pela Polícia Civil junto ao juiz do município contra integrantes da associação criminosa. "Na primeira prisão em Moju, quando solicitamos a prisão preventiva de envolvidos imediatamente ela avisou a todos os familiares e os comparsas para que saíssem da cidade", explica. Ela também é acusada de repassar a criminosos recolhidos em presídios telefones celulares escondidos no corpo.
Ela é namorada do criminoso Edson Nunes Leal, de apelido "Iô-Iô", irmão de um dos assaltantes mortos em Moju. A outra mulher presa, Jacqueline Vieira, é esposa do cabo Fabrício Vasconcelos e acusada de receber as mulheres dos comparsas, dar comida e remédios, e dirigir o carro do militar para transportar as armas usadas nos assaltos. Já Waldecy é acusado de ajudar na fuga de dois assaltantes em Concórdia do Pará e de guardar um dos fuzis usados no assalto. Edimilson Sousa levava comida aos bandidos no esconderijo em Concórdia do Pará e avisar da presença da Polícia na cidade.
Tem dois empresários foragidos acusados de fomentar as ações criminosas, por meio de financiamento em dinheiro para comprar carros e pagar viagens aos bandidos, que lhes pagavam com o dinheiro roubado dos bancos. Um dos empresários é José Edvan, dono de uma concessionária de carros em Castanhal. O outro empresário não teve o nome divulgado. A operação contou com apoio do GPE da Polícia Civil, da Superintendência de Castanhal, da Companhia de Operações Especiais (COE) e das Corregedorias das Polícias Civil e Militar, e apoio do juiz da Comarca de Concórdia do Pará.
MILITARES Já o cabo Giovani é acusado de sair do município de Concórdia do Pará, em janeiro deste ano, no momento da ação criminosa, sob alegação de fazer um abastecimento no veículo. Fabrício Vasconcelos atualmente estava lotado no presídio CRCast (Centro de Recuperação Regional de Castanhal), onde mantinha contato com criminosos. Leonardo é acusado de atuar no roubo na Defensoria Pública, em Belém. "Ele se vestiu de policial militar para abordar o vigilante", detalha. Ao ser preso, ele estava com uma pistola calibre .380 e assim foi autuado em flagrante pelo posse ilegal de arma de fogo. Durante as investigações, a Polícia Civil interceptou conversas telefônicas em que Leonardo e Rui Pantoja, um dos presos na operação, fazem ameaças de morte um ao outro, pois o ex-PM suspeitava de que Rui havia arrombado outro caixa eletrônico, situada no prédio do Incra, em Belém, no mesmo dia da ação criminosa na Defensoria Pública, e ficado com todo o dinheiro sem repassar a parte que lhe cabia no esquema. Com informações Pc-Pa.