“Este julgamento não é apenas de um homem, mas de um dos líderes de um consórcio do crime instalado naquela região do Pará e põe em xeque todo um sistema perverso ligado à grilagem de terra, pistolagem e desvio de recursos públicos”, dispara o bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), dom Erwin Klauter. O depoimento foi feito durante a coletiva de ontem, a respeito do julgamento do pecuarista Regivaldo Pereira Galvão, o “Taradão”, último acusado pela morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, em 2005, no próximo dia 30. Já estão presos Vitalmiro Bastos de Moura, o “Bida”, condenado a 30 anos de prisão; Rayfran das Neves, o “Fogoió” (27 anos); Clodoaldo Batista, o “Eduardo” (17 anos); e Amair Feijoli, o “Tato” (27 anos).
Segundo Erwin, mesmo passados cinco anos “ainda existe fôlego para enfrentar uma nova batalha”. “Dorothy foi morta porque defendia o direito dos menos favorecidos e a condenação ou não de Regivaldo não significa que o caso está encerrado. Ainda há muitas pessoas ligadas direta e indiretamente a este crime e diversos outros que sequer foram citados no inquérito”, afirma o bispo, referindo-se à época das investigações, onde o Ministério Público Federal do Pará (MPF/PA) e as polícias Federal e Civil tiveram de excluir suspeitos por falta de provas. Ele não quis citar nomes, mas diz saber quem são. Já o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Batista, destaca que algumas dessas pessoas estão sendo investigadas pelo MPF e pela Polícia Federal, mas em outros processos.
Reforçando o depoimento, a irmã Jane Dawer, da Congregação de Notre Dame, diz que a situação em Anapu, região norte do Estado, está pior do que na época em que a missionária foi morta. Ela também apresentou um processo do MPF/PA que acusa “Taradão” de invadir e se intitular proprietário de Terras da União – incluindo o lote 55 da Gleba Bacajá, onde Dorothy foi morta – usando meios ilícitos em nome de “laranjas” (terceiros), contradizendo as sete versões apresentadas por ele durante o processo.
COMITÊ
O representante do Comitê Dorothy em Belém, Dinailson Benassuly, diz estar com o pensamento positivo. “Acamparemos, cerca de mil pessoas oriundas dos municípios de Anapu, Altamira, Marabá, Irituia e Xinguara, um dia antes do julgamento, em Belém. Queremos a condenação”.
DEFESA.O advogado de defesa Jânio Rocha de Siqueira, afirma que todas as denúncias são infundadas e não existem provas concretas. “Volto a bater na tecla. Regivaldo Pereira Galvão foi escolhido para ser a grande vitrine deste caso, um homem que não tinha motivos para participar daquele assassinato, mas que está sendo usado como bode expiatório representando os fazendeiros e madeireiros daquela região do Estado”, define. Segundo ele, estarão no tribunal pontualmente às 8h, onde entrarão pela porta da frente e de cabeça erguida.